Por Emilio Hoffman*
Sair da zona de conforto foi e sempre será um dos obstáculos para aqueles profissionais que já dominam uma determinada técnica, tecnologia ou metodologia e ficam resistentes à experimentação e adoção de novas soluções disponibilizadas pelo mercado.
Algo natural e compreensível, mas sempre existem os profissionais que puxam a corrente e adotam pioneiramente as novas soluções. Alguns com aprovações bem positivas e outros com opinião contrária ou com sentimento de frustração.
Os RPAS, mais comumente conhecidos como drones, são algumas das tecnologias que têm passado por esta avaliação de aprovação do mercado e, de maneira generalizada, tem sido positiva.
Todavia, existem aplicações para os drones que, neste momento, têm gerado uma certa frustração. Algumas vezes pelos detalhes da regulamentação vigente, que impõe algumas restrições operacionais, como os aspectos de segurança em ambientes urbanos, e outras vezes porque não foram utilizados fluxos de trabalho otimizados de modo a viabilizá-los economicamente.
Um exemplo são as inspeções das fachadas para identificar e avaliar manifestações patológicas. Um dos métodos mais tradicionais para a coleta de informações consiste na utilização do técnico que desce pela fachada executando testes de percussão. É um processo lento e arriscado, mas largamente utilizado. Inserido dentro da zona de conforto das empresas de engenharia ou do perito, o teste de percussão é ainda uma metodologia em que boa parte dos engenheiros confia para identificar manifestações patológicas, mesmo que não sejam eles que executam o teste. É também a metodologia que as empresas têm domínio sobre os custos para fins de orçamento.
Outro método recente é a utilização dos drones, capazes de realizar as inspeções mais rapidamente e com menor custo. Apesar desta vantagem inicial, o fluxo de trabalho adotado para análise dos dados poderá influenciar no retorno financeiro esperado pelo perito, na qualidade do laudo, bem como extrapolar o orçamento do cliente. Dependendo da metodologia de análise dos dados, o plano de voo pode exigir sobreposição de imagens que geram X, 5X ou 10X imagens.
E justamente quando há um grande volume de imagens para serem analisadas que os peritos têm refletido sobre a utilização dos drones. Eles ficam imersos em um grande volume de imagens para procurar pelas patologias, descrevê-las, organizá-las e mapeá-las na fachada para então elaborar um laudo técnico. E isso tem aumentado o tempo investido e, consequentemente, inviabilizado alguns trabalhos com drones.
Há um entendimento, entre muitos peritos, de que a utilização dos drones não elimina o uso dos testes de percussão em algumas situações, mas orienta o profissional de perícia onde pontualmente se deve realizar os testes para uma melhor análise da manifestação patológica. E, justamente pelo drone ser uma alternativa recente – e a maioria dos drones utilizados não embarcarem sensores térmicos, e sim sensores com imagens RGB de alta resolução-, que ainda limitam a análise, o preço para o cliente final – de acordo com alguns peritos – não deve superar entre 60% e 70% do valor da metodologia tradicional mais viável economicamente, pois se deve ter uma margem para eventual inspeção pontual por teste de percussão, por exemplo.
Por essas e outras razões, otimizar o fluxo de trabalho, principalmente do perito, pode contribuir para viabilizar o uso dos drones nas inspeções prediais sem perder qualidade investigativa. Uma das maneiras de otimizar o fluxo de trabalho é a utilização da inteligência artificial de maneira colaborativa com o profissional, com o perito. Algumas metodologias influenciam no plano de voo, gerando um menor volume de imagens a partir de um valor reduzido de sobreposição, algo entre 5% e 10%.
O perito analisa um volume significativamente inferior de imagens a partir de um fluxo de trabalho coordenado, onde as imagens são previamente analisadas pela inteligência artificial. Após a revisão do perito, onde suas considerações são adicionadas a partir de ferramentas de interface simples, a inteligência artificial mapeia as patologias na fachada (no ortomosaico ou desenho fornecido da elevação do edifício) e gera o laudo técnico para o perito.
Se for gerado um ortomosaico, este não terá a qualidade de um ortomosaico gerado a partir de uma elevada sobreposição de imagens, mas será o suficiente para mostrar as regiões em que as patologias se encontram. E, muitas vezes, é o suficiente para uma empresa de manutenção realizar o orçamento, pois os detalhes sobre cada patologia estarão no relatório impresso e numa plataforma digital e interativa, com imagens em alta resolução e com possibilidade de zoom, onde é possível observar as patologias com mais detalhes, utilizar filtros de classificação por tipo de patologia e gravidade, urgência, etc., de modo a planejar as ações de manutenção e afinar o orçamento.
Outras metodologias, que podem ou não envolver a inteligência artificial, buscam criar um ortomosaico de alta qualidade, e até mesmo um modelo 3D. Nem sempre, no ortomosaico ou no modelo 3D, é possível identificar manifestações patológicas com características milimétricas. Dependerá, inclusive, da qualidade do “GSD” das imagens obtido durante a coleta com o drone, e se pontos de controle foram utilizados para gerar um produto final de qualidade.
Ao utilizar drones com sensores RGB e térmicos, o tempo investido para analisar as imagens pode ser ainda maior, todavia pode trazer informações mais confiáveis para o perito, que o levam a uma conclusão mais assertiva. Poderá, inclusive, estabelecer um preço final igual ou superior às metodologias tradicionais, por oferecer uma proposta de valor e resultados mais confiáveis. É uma tendência, mas que dependerá da redução do custo dos sensores e também de um profissional certificado para analisar as imagens termográficas.
Certamente, a utilização de imagens termográficas captadas por drones será um diferencial no mercado de inspeções prediais nos próximos anos, assim como já é muito importante nas inspeções industriais. E a inteligência artificial também contribuirá para uma melhor eficiência do fluxo de trabalho do perito.
Os engenheiros e peritos continuarão a utilizar muitas das tradicionais metodologias para capturar dados que os auxiliem na análise das manifestações patológicas. Os drones podem ajudá-los a capturar esses dados mais rapidamente e com menor custo, mas a metodologia e as ferramentas digitais utilizadas em seus fluxos de trabalho, bem como operadores de drones capacitados para executar determinados planos de voo, serão partes determinantes para a adoção das tecnologias dos drones pelos engenheiros e peritos, bem como clientes.
Além das metodologias que aceleram ou facilitam o trabalho do perito, propostas de valor adicionais, como a interatividade na nuvem para o cliente final e as partes interessadas, bem como padronização, contribuem para a percepção do valor do trabalho, permitindo uma remuneração que seja atrativa para o perito adotar a tecnologia dos drones, e clientes demandarem cada vez mais pelas inspeções por drones.
Emílio Hoffman* é Engenheiro Eletricista pela UFPR, autor do livro A Era do Hidrogênio, das Energias Renováveis e Células a Combustível, e pós-graduando em RPAs (Drones) e VANTs em Aplicações Civis e Comerciais – PUCPR. É co-fundador e diretor de operações na América Latina da H3 Dynamics, empresa com sede matriz em Cingapura e que desenvolve soluções disruptivas que convergem diversas áreas da tecnologia, tais como: células a combustível a hidrogênio ultraleves para drones de longa autonomia, plataformas robóticas para automação de missões remotas de drones, e plataformas de inteligência artificial para processamento dos dados coletados por drones. Também é diretor de desenvolvimento de negócios da H3ZOOM.AI (inteligência artificial) e da HES Energy Systems (células a combustível H2) na América Latina, ambas subsidiárias da H3 Dynamics. É fundador da Brasil H2, empresa fundada em 2003 e dedicada às tecnologias de células a combustível para diversas aplicações.
Drones e Inteligência Artificial para Inspeções na Construção
Na próxima quarta-feira (19/9) às 11h (hora de Brasília) será realizado um webinar sobre Drones e Inteligência Artificial aplicados às Inspeções na Construção Civil. A apresentação será de Emílio Hoffman, com moderação de Emerson Granemann, fundador da MundoGEO e idealizador da DroneShow.
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O tema central será alguns dos desafios encontrados por engenheiros e peritos para melhorar a qualidade das inspeções, bem como a produtividade na análise dos dados coletados.
O bate-papo com Emilio Hoffmann Gomes Neto dará uma prévia do que será abordado nos cursos básico e avançado de Inspeções na Construção Civil com Drones, a serem realizados no dia 8 de Novembro durante a DroneShow Plus, em São Paulo (SP).