Por Samuel Salomão*
Em meu último artigo escrevi sobre os desafios que devem ser vencidos para viabilizar o serviço de entregas com drones no Brasil e no mundo. Naquela ocasião comentei sobre a importância do Projeto Piloto de Integração do Espaço Aéreo americano, uma iniciativa apoiada pelo presidente Trump, administrada pelo Departamento de Transportes (DOT), e autorizada pelo FAA: a agência que regula o setor de aviação civil e drones naquele país.
Esta semana começamos a ver os resultados positivos do programa. A Matternet, uma empresa suíça, iniciou seu programa de testes com duração de três anos de seus drones de entrega no estado americano da Carolina do Norte. O estado abriga uma das 10 cidades escolhidas pelo FAA para determinar como os drones, ou Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPAS), podem ser usados comercialmente nos Estados Unidos.
O drone transportará frascos de água de um consultório médico em Sunnybrook e de outros dois edifícios antes de aterrissar no telhado de um dos principais hospitais da cidade, o WakeMed. O objetivo é expandir gradualmente os voos até que os drones estejam transportando amostras e suprimentos médicos entre as instalações do WakeMed em diferentes partes da cidade.
A empresa Matternet já realizou várias entregas médicas por drone na Suíça, no entanto esta será a primeira vez que alguém fez isso nos Estados Unidos. Será também uma das primeiras vezes que um drone será autorizado a voar além da linha de visada de seu piloto (BVLOS), embora neste caso específico observadores estarão posicionados ao longo do caminho para acompanhar o voo curto do drone nas imediações do hospital.
Segundo o chefe do programa, Basil Yap, “este primeiro voo será um grande passo para a área da saúde e para a tecnologia não tripulada”. Disse ainda que “estamos cruzando uma nova fronteira que trará maior eficiência e menores custos para os provedores de assistência médica e, muitas vezes, ajudará a salvar vidas”. Para o diretor médico do WakeMed, Stuart Ginn, “o WakeMed está comprometido em fornecer tratamento que salva vidas quando o tempo é o mais importante. Utilizar drones nos cuidados à saúde melhorará a velocidade das entregas e o acesso aos cuidados, além de criar comunidades mais saudáveis”.
Iniciativas como a americana estão sendo realizadas também no Canadá, Austrália e países da Ásia e África. Trata-se de um esforço entre empresas privadas e governos locais para colocar em prática a tecnologia de drones para entregas. Costumo dizer que nesses casos, principalmente na área da saúde, os benefícios superam os riscos com uma enorme margem. Na grande maioria das vezes os voos são curtos e rápidos, a uma altura que não ultrapassa os 60 metros.
Esperamos um olhar mais atento das agências reguladoras do setor no Brasil (ANAC, ANATEL, DECEA). Estudando-se as grandes cidades e delimitando corredores de baixa altitude para os drones, teremos vários hospitais que podem se beneficiar da tecnologia e prover uma assistência de mais qualidade para os pacientes. Além de reduzir custos e contribuir para o desenvolvimento tecnológico brasileiro, estaremos salvando vidas.
*Samuel Salomão, Fundador, CEO da SMX Systems. Engenheiro de Software e Mestre em Bioengenharia pela USP São Carlos, trabalhou 12 anos na área de Desenvolvimento de Software, sendo 3 anos nos Estados Unidos. Atualmente atua no desenvolvimento de sistemas de Telemedicina, e sistemas autônomos para o transporte e entrega de medicamentos usando drones.
Primeira entrega de Drones no Brasil
A SMX Systems, em parceria com a Prefeitura Municipal de Rifaina, no Estado de São Paulo, realizou uma prova de conceito (POC) da solução de Drone Delivery da empresa.
No dia 19 de agosto passado às 11:24 (hora de Brasília) aconteceu com sucesso a primeira entrega usando drone no Brasil. Esta foi a primeira entrega realizada por um drone pós regulamentação do setor, desde maio de 2017 . O drone utilizado foi o SMX-DLV1, que está homologado na ANATEL, tem cadastro ativo na ANAC e obteve autorização do DECEA para realizar o voo.
A ideia é utilizar a tecnologia para melhorar a experiência das pessoas que vivem em propriedades do outro lado do rio, já que a cidade está localizada às margens do Rio Grande, sendo a única fonte de produtos para os moradores da região. Muitos vivem separados da cidade por até um quilômetro, sendo necessário enfrentar o rio ou estradas de terra para se chegar até os mercados e farmácias locais.
Para a prova de conceito, a SMX convidou várias propriedades para participar. Recentemente, a rede de farmácias DrogaFarma apoiou a iniciativa para fornecer amostras, kits e brindes de forma gratuita para serem entregues pelos delivery drones.
Simultaneamente, a empresa SMX está realizando um levantamento dos produtos, com até dois quilos, mais vendidos pelos comerciantes. No futuro próximo, o resultado da pesquisa tomará a forma de um catálogo online onde os moradores poderão escolher o produto e realizar a compra pela internet. A entrega dos produtos seria então realizada pelos delivery drones da empresa.
Espera-se realizar mais de 100 voos e entregas com objetivo de apresentar a tecnologia para a comunidade local, além de validar o sistema SMX no cenário de e-commerce. Será um fato inédito na história recente do Brasil.
Fórum de Empresários
No dia 7 de novembro será realizada a sexta edição do Fórum Empresarial de Drones, dentro da programação do DroneShow Plus 2018, em em São Paulo (SP).
Este Fórum apresenta uma continuidade da sequência de encontros da comunidade empresarial, promovidos pela MundoGEO, que acontece desde 2016.
Neste ambiente serão discutidos também novos modelos de negócios, conhecidas as novas demandas do mercado e promovidas cooperações entre as empresas dos setores de drones e geotecnologia.
O moderador do 6º Fórum Empresarial de Drones será Emerson Granemann, Fundador da MundoGEO, idealizador das feiras DroneShow e MundoGEO#Connect.
Samuel Salomão será palestrante/debatedor no 6º Fórum Empresarial de Drones, no painel sobre demandas, desafios tecnológicos e regulatórios dos delivery drones.