O Smart City Expo Curitiba 2018 debaterá como algumas cidades já utilizam dispositivos conectados e reúnem um grande conjunto de dados para oferecer serviços públicos essenciais
Um dos quatro principais pilares dos debates que ocorrerão no Smart City Expo Curitiba 2018, em 28 de fevereiro e 1º de março, é o segmento de tecnologias disruptivas, que vem transformando as cidades em polos cada vez mais conectados, com o objetivo de facilitar e melhorar a vida dos moradores.
Dentre estas tecnologias, destacam-se os drones, que vêm ganhando cada vez mais espaço em aplicações para as áreas urbanas.
Confira a entrevista com Emilio Hoffmann Gomes Neto, engenheiro eletricista, pós-graduando em Drones para Aplicações Civis e Comerciais na PUC-PR, fundador da Brasil H2 (fuel cells/energia solar) e co-fundador da H3 Dynamics (Singapura). Esta desenvolve soluções disruptivas e automatizadas com drones para smart cities.
• Qual relação entre os Drones e Smart Cities?
As cidades têm o seu funcionamento com base em um conjunto de subsistemas como os de energia, água, comunicação, entre outros. Esse conjunto de subsistemas em uma cidade é a infraestrutura urbana. Ela consiste em um grupo gigantesco de operações essenciais para o desenvolvimento das funções urbanas nos aspectos social (lazer, segurança, moradia, saúde e trabalho), econômico e institucional da cidade. E uma pergunta que os gestores das cidades fazem todos os dias é: – Como gerenciar a infraestrutura e as funções urbanas de maneira eficiente?
• E, se por acaso, as cidades possuíssem inteligência própria, sendo capazes de tomarem decisões rápidas, em tempo real, e se anteciparem a possíveis ocorrências e transtornos? Serem eficientemente reativas e proativas?
Para tomarem decisões e agirem com ações eficientemente proativas ou reativas, as cidades precisam sentir, perceber o ambiente, compreender em tempo real a sua dinâmica. Como? A partir de sensores. Qualquer objeto, ou “coisa”, que tenha um sensor e seja capaz de enviar e receber informações na Internet, pode fazer parte da Internet das Coisas. Além de compartilharem informações, as coisas estão pensando cognitivamente como o ser humano. Elas têm inteligência artificial que é obtida da nuvem, a partir de bancos de dados poderosíssimos como, por exemplo, o Watson IoT da IBM.
Tem coisas que estão voando: os drones, os sensores voadores. Eles podem ver de cima, melhor que nós. Enxergam a luz no espectro da luz visível e no infravermelho. Emitem até laser para gerar modelos digitais de superfície das cidades. Podem cheirar, isto é, detectar gases emitidos por aterros sanitários, indústrias, gasodutos e bueiros. Podem sentir a umidade das árvores da cidade e verificar se estão saudáveis ou com pragas. E podem georreferenciar as informações com GPS. Então, os drones poderão estar inseridos na Internet das Coisas. E a Internet das Coisas está cada vez mais inserida no sistema de gerenciamento das cidades inteligentes. As informações coletadas pelos drones serão importantes para alimentar o Big Data, que consiste em um volume gigantesco de dados. E a partir de análises computacionais, softwares com inteligência artificial integrada oferecerão “insights”, recomendações de ações a serem tomadas por meio de outros robôs ou por seres humanos. Enfim, os drones serão essenciais para as cidades inteligentes sentirem a sua dinâmica e responderem de maneira mais eficiente, com impactos favoráveis nos aspectos social, econômico e institucional.
• Qual sua expectativa para o mercado de Drones no Brasil?
A partir da regulamentação da ANAC, em 2017, que permitiu a utilização dos drones para fins comerciais no Brasil, houve um aumento das operações com os drones no país, bem como o surgimento de startups e investimentos no setor. Juridicamente foi um alívio para as empresas prestadoras de serviços com drones e clientes que desejavam utilizar a tecnologia. Ainda existem algumas barreiras para o mercado de serviços com drones, como a necessidade da regulamentação por parte do Ministério da Defesa para a realização de aerolevantamentos. Hoje, praticamente a maior parte dos aerolevantamentos com drones no Brasil são feitos ilegalmente, permitido somente por aeronaves tripuladas. Uma burocracia para o setor, mas que deverá ser resolvido pelo Ministério da Defesa em breve. Mas, de maneira geral, as empresas tem seguido à risca as regulamentações da Anatel, ANAC e DECEA para colocarem no ar e com segurança os drones. Há um grande esforço destas três instituições para a evolução da tecnologia no Brasil. Mas também há desinformação da sociedade sobre as regras para colocar um drone no ar para fins recreativos ou comerciais.
Uma das limitações atualmente para os serviços com drones é a operação fora da linha de visada, onde o piloto do drone não enxerga o drone. É chamado de voo BVLOS (Beyond Visual Line of Sight). E não há, atualmente, nenhum drone certificado para operar nestas condições no Brasil. A boa notícia é que existem sete empresas no processo de certificação de aeronavegabilidade para voo BVLOS na ANAC. Uma vez que essas empresas consigam o certificado, importante para atestar a segurança operacional deste tipo de voo, muitas aplicações que precisam de missões com maior área de cobertura ou distância percorrida serão possíveis, como a inspeção de linhas de transmissão e o monitoramento ambiental, como florestas, e na agricultura de precisão, dentre outras aplicações.
A corrida no mercado brasileiro de drones então começará de fato a partir daí rumo às missões automatizadas com drones, sem a necessidade de pilotos próximos ao local da missão do drone. Eles estarão dentro do escritório monitorando os drones e intervindo se necessário. Será o processo da escalabilidade disruptiva dos drones nas cidades, desde serviços de inspeções das infraestruturas urbanas até serviços de entregas de produtos e medicamentos. E talvez o mais esperado, o drone tripulado. Em paralelo a tudo isso, o Brasil deverá investir no controle do tráfego aéreo dos drones. Em 2017, a frota mundial ativa de aviões era de 350 mil unidades. No mesmo ano, mais de 4 milhões e meio de drones foram comercializados. Temos um grande desafio não apenas para o Brasil, mas em escala mundial.
• Sabemos que os Drones são uma tecnologia disruptiva, mas que a tecnologia dos Drones tem a oferecer para a sociedade?
De fato, o drone é uma tecnologia com inovação disruptiva capaz de oferecer um produto ou serviço que cria um novo mercado e desestabiliza os concorrentes ou substitui tecnologias que antes o dominavam. As inspeções das linhas de transmissão de energia com helicópteros estão dando lugar aos drones. É mais seguro e econômico. O profissional que escalava torres de telecomunicações para realizar a inspeção está usando drones. É mais seguro, mais rápido e econômico, mas ainda é um processo aleatório. Onde eu devo ir primeiro dentre as seis mil e quinhentas estações rádio base instaladas na cidade de São Paulo?
Essa inovação disruptiva com os drones tende a ser mais disruptiva ainda a partir da automação do fluxo de trabalho dos serviços com drones. Desde o lançamento automatizado dos drones para a coleta dos dados, passando pelo processamento digital dos dados até o resultado final, ou seja, de ponta a ponta. Uma fusão, uma convergência de tecnologias, de soluções, antes fragmentadas e que fará parte de um sistema inteligente e ágil, tudo conectado. Hardware, software, nuvem, analítica, convergindo para criar grandes soluções para a indústria 4.0, para as cidades inteligentes.
Que tal, então, levantar voo de centenas, milhares de drones ao mesmo tempo, milhares de inspeções ao mesmo tempo? Saber onde ir e resolver o problema primeiro! A partir de soluções com escalabilidade com drones será possível alcançar esta inteligência logística. Serve para estações rádio base, gasodutos e oleodutos, linhas de transmissão, ferrovias, etc. É o caminho. Neste momento, estamos somente no começo da introdução dos drones na sociedade. É um bebê que começou a andar.
• Qual sua expectativa para o evento?
O Smart City EXPO Curitiba é um evento de alcance mundial, com vários especialistas em cidades inteligentes, em planejamento das cidades e tecnologia da informação. Eu espero que os especialistas e os gestores das cidades inteligentes compreendam que não temos como frear o avanço das tecnologias dos drones, especialmente as que serão integradas à Internet das Coisas, ao BIG DATA e à inteligência artificial. Os drones farão parte da gestão eficiente da infraestrutura urbana e das funções urbanas das cidades inteligentes. Portanto, eles devem desenvolver um ecossistema favorável para o desenvolvimento da tecnologia em suas cidades. As cidades que forem mais receptivas à revolução da automação, da escalabilidade disruptiva, não serão apenas usuárias, mas a casa de centenas de startups, grandes empresas e profissionais qualificados. Provavelmente, terão uma grande transformação na cidade e quem sabe da vocação da cidade.
• O que o futuro próximo reserva para esta tecnologia?
Atualmente, de uma maneira em geral, os serviços com drones tem fluxos de trabalho bem fragmentados. O piloto prepara o drone, carrega as baterias e se desloca até o local da aplicação. O drone coleta os dados e o piloto entrega a memória de armazenamento dos dados para o especialista. A partir de um software, o especialista processa os dados e analisa. Este processo, não muito automatizado, já traz algumas vantagens. Em muitas situações, os custos da aquisição dos dados por drones são menores que os das tecnologias convencionais. Ademais, os dados coletados e os resultados gerados são mais precisos. Mas não irá parar por aí. Estamos diante da revolução da robótica integrada à Internet das Coisas, da indústria 4.0. Desta maneira, o futuro próximo nos leva à escalabilidade disruptiva dos drones, isto é, a automação dos processos do fluxo de trabalho dos serviços com drones. Desde o lançamento automatizado dos drones para a coleta dos dados, passando pelo processamento digital até o resultado final entregue ao cliente ou a outra máquina, tal como o drone. A Internet dos Drones.
Por exemplo, na agricultura, um drone pode mapear a plantação para verificar a saúde das plantas. As imagens são processadas na nuvem ou mesmo no próprio drone e enviadas para um segundo drone. Esse segundo drone, que pode ser um trator robô ou um drone aéreo, irá pulverizar com precisão cirúrgica somente onde é necessário, reduzindo o consumo de insumos, como água e herbicidas. O monitoramento poderá ser realizado diariamente, acompanhando o crescimento de cada planta ou região da plantação.
Os drones realizarão rondas e serão ativados quando um sistema de vigilância – sensores IoT – detectar um invasor. É a aplicação dos drones na segurança perimetral dos principais ativos da infraestrutura de uma cidade, estado ou país, bem como da indústria, condomínios residenciais, etc.
Outro exemplo, na segurança pública. Imagine uma associação de moradores de um determinado bairro que tem um grupo num aplicativo da rede social. Um dos moradores identificou pessoas suspeitas perto de sua casa. Ele comunica o grupo e a polícia. A polícia, que já tem centenas de rotas pré-programadas, envia o drone para o local e monitora o suspeito até a chegada da viatura. São ações mais rápidas de segurança, integradas com a comunidade e que podem evitar ou registrar um delito. Mas de onde partiu o drone? Possivelmente, de estações rádio base espalhadas pela cidade e que compartilham serviços de aplicações com drones. Lançados a partir de plataformas robóticas que realizam as inspeções das torres, os mesmos drones poderão quem sabe ser utilizados pela defesa civil em situações de sinistro, de resposta rápida em emergências, bem como pela segurança pública.
Em Cingapura, os órgãos públicos que gerenciam as edificações públicas e residenciais estão investindo nos drones para realizar inspeções das fachadas dos edifícios em busca de anomalias, tais como: fissuras em estruturas de concreto, trincas em vidro, corrosões em estruturas metálicas, pintura descascada, dentre outras. Os processos de trabalho tradicionais são arriscados, lentos, repetitivos, tediosos, sem padrão, pois cada inspetor tem o seu próprio julgamento da anomalia. Ao utilizar drones, é possível ganhar produtividade, reduzir os riscos de acidentes e o custo. Ao desenvolver uma solução integrada com tecnologias da computação, assistidas pela inteligência artificial, é possível acelerar ainda mais o fluxo de trabalho, além de aumentar a confiabilidade e a padronização para identificar e classificar as anomalias. Esse é um dos projetos em que estou envolvido na H3 Dynamics, onde sou co-fundador.
Também há grande expectativa pela entrega de produtos e medicamentos a partir de drones, bem como o transporte de pessoas, que está sempre na pauta das aplicações futuras para os drones. Empresas como Airbus, Amazon, Fedex, Embraer e Uber, dentre outras, estão desenvolvendo e testando suas soluções em cidades e países que buscam criar um ecossistema favorável para o desenvolvimento da tecnologia. Portanto, a regulamentação de cada país também deverá acompanhar o avanço tecnológico, criando políticas públicas para viabilizar projetos pilotos em algumas cidades de modo a se replicar posteriormente em outras cidades. Enfim, o futuro com os drones será surpreendente.