Robótica aérea e a nova era da indústria: oportunidades e desafios

O Brasil tem uma oportunidade única de assumir um papel estratégico no mercado global de drones

Robotica-aerea-e-a-nova-era-da-industria-oportunidades-e-desafios-para-o-BrasilAvanços na tecnologia robótica impulsionaram a crescente adoção de drones em uma ampla gama de aplicações na agricultura, logística e segurança. Há mais de 100.000 drones registrados atualmente no Brasil, e este número não para de aumentar. O mercado cresce a uma taxa de 27% ao ano, segundo algumas fontes, e pode chegar a US$ 260 bilhões em 2030.

Nosso país, entretanto, enfrenta desafios para se consolidar como líder nesse setor. Ainda não conseguimos acompanhar o ritmo de inovação global. Temos dificuldade em agregar valor e reduzir a dependência tecnológica. Não desenvolvemos uma indústria capaz de atender o mercado interno e projetar-se no cenário internacional.

Na agricultura, os drones são reconhecidos como uma das soluções mais promissoras em termos de sustentabilidade. Por sua versatilidade, flexibilidade logística e operação simplificada, eles se tornaram uma vantagem competitiva para produtores rurais. Novas aplicações na agricultura continuam a ser testadas e validadas, com vasto potencial ainda por explorar, o que aponta para um ganho contínuo de escala ao longo das próximas décadas.

A logística de um país continental como o Brasil também se beneficiará enormemente do uso de drones para transporte de cargas em áreas remotas. Grandes centros urbanos podem lançar mão dessa tecnologia na mitigação de problemáticas de mobilidade urbana. Já na segurança pública, sucessivas gerações de drones têm o potencial de transformar operações em áreas urbanas e rurais, elevando o uso da robótica aérea a outro patamar.

Esse ganho de escala, entretanto, tem sido absorvido pela indústria chinesa. Com forte fomento governamental, a China inovou no início dos anos 2000, desenvolvendo novos conceitos e incentivando a formação de talentos na área. Rapidamente, estabeleceu uma cadeia de suprimentos verticalizada, fechada, e passou a deter um monopólio tecnológico mundial no setor.

Como reverter essa tendência e fazer com que o Brasil passe a inovar em robótica aérea? Precisamos navegar em um ambiente complexo de negócios internacionais, aproveitar sinergias com países estratégicos como China, Estados Unidos e Israel, encontrar e criar o espaço para a indústria brasileira no mercado. Para isso, é necessário um ambiente de negócios mais estruturado no país.

O uso dual – civil e militar – dos drones resulta em um controle rigoroso de exportação por parte dos países fabricantes. Barreiras técnico-comerciais, sobretudo dos Estados Unidos e da China, têm sido adotadas em um cenário de crescente complexidade geopolítica. Arquiteturas fechadas, principalmente as de drones chineses, direcionam dados coletados em campo diretamente para servidores no exterior, comprometendo a privacidade e o domínio operacional e estratégico de informações locais. A cadeia de suprimentos chinesa, altamente verticalizada, gera grande competitividade para suas empresas e dificulta o acesso de novos entrantes estrangeiros. Não há, atualmente, um ecossistema ocidental consolidado para essa indústria, o que gera alta dependência do setor em relação à China.

O Brasil, entretanto, detém um dos principais mercados globais. Nossa agricultura tem grande potencial de escala. Grandes oportunidades existem em logística e segurança. Ações importantes como o Projeto BR-UTM, da Força Aérea Brasileira, que prevê o controle do espaço aéreo de drones via serviços digitais modernos, e a elaboração da Portaria SDA no 1.187 do Ministério da Agricultura, que revisa normas de uso de drones na agricultura, ajudam a organizar um ambiente de operações e negócios no Brasil. Em diferentes programas, os setores público e privado também investem recursos em empresas brasileiras para o desenvolvimento de tecnologias. Estas iniciativas ajudam, mas não são suficientes. São notadamente isoladas: não fazem parte de um plano estratégico setorial, que viabilize investimentos significativos, que possibilite a inserção e colaboração internacional efetiva.

O Brasil tem uma oportunidade única de assumir um papel estratégico no mercado global de drones. Tendo o mercado local como pano de fundo, pode-se agregar e coordenar investimentos e políticas de incentivo à inovação, desenvolvimento de talentos e colaboração entre o público e o privado. Isso não apenas reduzirá nossa dependência tecnológica externa, mas também posicionará o país como líder em soluções de robótica aérea voltadas para as necessidades do ocidente. A inovação e o desenvolvimento nesse mercado são, portanto, não apenas um desafio, mas também uma janela de oportunidade para a soberania tecnológica e o avanço industrial brasileiro.

Nei Salis Brasil Neto

Pioneiro da indústria de drones no Brasil. Cofundador da FT Sistemas, uma das primeiras Empresas Estratégicas de Defesa país, e da VOA, apontada como uma das 10 melhores Agtechs do Brasil por 2 anos consecutivos. É head de Drones da JACTO, multinacional brasileira que atua em segmentos como agrícola, polímeros, transporte e logística e médico-hospitalar. Como representante da Indústria de Drones, foi membro do Unmanned Aerial Systems Study Group da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional – Montreal) e coordenador dos grupos de trabalho de Drones da AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) e da  ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança).

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da MundoGEO
Imagem de capa: Pixabay

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