*Por Fabiano Melo
Projeto de conservação de primatas utiliza câmeras de alta resolução para estudar espécies ameaçadas de extinção
Os métodos mais comuns utilizados na contagem de animais na mata está com seus dias contados. Uma tecnologia inovadora tem ajudado no monitoramento de macacos no estado de Minas Gerais. Trata-se do “Dronequi”, drone com câmera termal, que é utilizado em benefício da conservação da espécie de macacos conhecidos como muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). O projeto, apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, utiliza o aparelho desenvolvido pela Storm Security para monitorar a população desses primatas ameaçados de extinção.O sistema utilizado pode parecer simples, mas é extremamente inovador. De acordo com Fabiano Melo, professor associado da Universidade Federal de Goiás e professor visitante da Universidade Federal de Viçosa, além de membro do MIB (Muriqui Instituto de Biodiversidade) e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, o drone chega como uma revolução para o monitoramento das espécies nas matas. “Antes, nosso método era entrar na mata e contar os macacos individualmente. Agora, com o drone, temos duas câmeras de altíssima resolução de imagem e sensibilidade ao calor, que nos auxilia a localizar e contabilizar os animais em novos grupos e, principalmente, indivíduos isolados”, comemora Fabiano, que também é consultor voluntário da Fundação Grupo Boticário.
A espécie do muriqui-do-norte conta com apenas 900 indivíduos na natureza e é considerada como “criticamente em perigo” pela mais recente lista divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente. A classificação está atrás somente da “extinta da natureza”. Na Mata Atlântica, habitat natural da espécie, as fêmeas têm o costume de migrar entre os grupos, diferente dos machos que permanecem a vida inteira em um mesmo bando. Com essa migração, as fêmeas acabam muitas vezes ficando perdidas em pequenos fragmentos da mata e o drone auxilia também neste momento: encontrando animais isolados e minimizando o risco de perde-los.
Esmeralda é esperança para a espécie
O caso de Esmeralda foi assim. Fabiano Melo conta que um macaco costumava aparecer em um quintal no município de Ferros, em Minas Gerais. Após identificar que se tratava de um muriqui-do-norte, os pesquisadores tiveram que descobrir se o indivíduo pertencia a algum grupo. Nesse momento foi feita a translocação de Esmeralda (como foi batizada) para a mata do Luna, em Santa Rita de Ibitipoca (MG), onde teria a oportunidade de encontrar um grupo de muriquis-do-norte. A intenção era fazer com que Esmeralda ajudasse na recuperação da espécie nessa localidade.
Desde o início da ação, Esmeralda encontrou os machos e, aos poucos, estão se aproximando. Segundo Melo, “até o final do ano, se tudo der certo, ela deverá estar prenha e garantindo a conservação da espécie”. O acompanhamento das ações de Esmeralda e do grupo de muriquis será feita com o “dronequi”, que consegue observá-los à distância, sem interferir em seu habitat. O projeto, 100% brasileiro, é fruto de uma parceria entre a equipe da Storm Security, com biólogos da ONG MIB e apoio da Fundação Grupo Boticário de Conservação da Natureza. O projeto também conta com a parceria da Reserva do Ibitipoca e da Fundação Biodiversitas.
A translocação da Esmeralda teve apoio decisivo da Reserva do Ibitipoca e o Programa de Conservação Muriquis de Minas – PCMM, que representa as ações de conservação da espécie. Também conta com o apoio financeiro da Fundação Biodiversitas, Ecoatlântica e da YKS Consultoria Ambiental, além de apoio institucional do Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental, do IBAMA-MG, Instituto Estadual de Florestas e das Universidades Federais de Viçosa e Goiás.
*Fabiano Melo é membro da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.