Felipe Spina, Gerente de Conservação da Biodiversidade Terrestre Internacional da Fauna e da Flora na Ilha de Príncipe – África, explica como drones e tecnologias de mapeamento 3D estão trazendo nosso conhecimento das florestas da ilha para o século 21
Localizada na costa oeste da África, a Ilha de Príncipe faz parte do arquipélago de São Tomé e Príncipe. Esta cadeia de ilhas é comparável a Galápagos em termos de espécies endêmicas (aquelas encontradas em nenhum outro lugar na Terra) e é impressionantemente rica em biodiversidade.
Apesar de ter apenas 56 milhas quadradas de área, Príncipe não só possui duas Áreas Importantes para Preservação de Aves (em inglês Important Bird Areas) e uma Área para Aves Endêmicas (em inglês Endemic Bird Area), mas é também reconhecida como uma Reserva da Biosferapela UNESCO.
Quem ou o que está lá fora?
Mas, apesar de sua alta importância para a conservação, a vegetação da Ilha do Príncipe não é tão bem compreendida. Os poucos mapas disponíveis são desatualizados e imprecisos – na verdade, a maioria foi criada nos tempos coloniais e focado no desenvolvimento agrícola. Desde então, tem havido muita mudança no uso da terra, e florestas naturais tem crescido ao longo de grande parte das terras agrícolas abandonadas.
Como resultado, não há mapas atualizados que retratem com precisão a vegetação de floresta ou que identificam os diferentes habitats terrestres. Mas agora, tudo está mudando. A Príncipe Trust Foundation, em conjunto com várias agências do governo, estão trabalhando para começar a mapear as florestas da ilha.
O primeiro desafio foi descobrir como fazer os levantamentos. A maioria das áreas de floresta mais bem preservadas estão no sul da ilha, que é de difícil acesso e possui terreno acidentado, que faz com que as pesquisas de vegetação tradicionais sejam extremamente desafiadoras.
No entanto, a tecnologia veio para o resgate em forma de drones, que permitem avaliar rapidamente a floresta – seja qual for o terreno. Estes drones podem capturar imagens e vídeos em resolução tão alta que não só são capazes de identificar os principais recursos florestais, mas podem até mesmo começar a identificar algumas espécies-chave e invasivas. Talvez o melhor de tudo seja que essas imagens também podem ser usadas para criar modelos digitais de terreno, ou mapas 3D.
Tecnologia complicada
Drones também possuem seus desafios.
Para começar, você precisa encontrar “plataformas de lançamento” adequadas na floresta, onde o avião possa decolar, naveguar através do dossel e depois pousar novamente com segurança. Além do mais, você tem que ser capaz de pilotar o avião sem linha visual de visão, devido à vegetação, e evitar atingir os galhos.
Falha de sinal devido à densa vegetação (ou porque o avião voou fora do alcance do operador) também é um problema real, e a vida útil da bateria limita o tempo dos voos e do tamanho da área que pode ser amostrada.
Foram montados oito pontos de teste – quatro na Area Protegida de Azeitona e quatro na área agroflorestal.
Uma vez que os voos de drones foram feitos, foi realizado um levantamento terrestre mais tradicional para mapear e identificar as maiores árvores nas áreas pesquisadas.
Agora, as informações obtidas do solo e do ar estão sendo comparadas, para ver se os drones permitem identificar com precisão as espécies-chave e avaliar a cobertura do dossel, a regeneração florestal e outros aspectos.
Os resultados iniciais mostram que há muito trabalho a fazer para melhorar essa ferramenta, mas já é incrível ver a quantidade de informação reunida a partir das fotos. Algumas espécies de árvores, como o coco invasivo e óleo de palma são facilmente vistas nas fotos, e pode-se até mesmo inferir a área que ocupam. Também é possível detectar e explorar outras características em detalhe, como os manguezais, e identificar cortes florestais que são um sinal de extração ilegal de madeira.
Mapeando em três dimensões
Um dos produtos, que podem ser obtidos a partir do imageamento com drones, que possuem maior potencial é o mapeamento 3D.
Este tipo de mapa permite recolher ainda mais informações sobre a floresta, especialmente as informações sobre o terreno e a altura das árvores. Ao contrário dos habituais mapas 2D produzidos por drones, para gerar um mapa 3D você precisa oar sobre a área de interesse muitas vezes, tomando literalmente centenas de sobreposição de imagens em baixa altitude. Então a informação precisa ser processada em um programa de mapeamento com drones (oi utilizado o Pix4d), o quepode ser um processo muito longo e tedioso.
Mas os resultados finais são impressionantes. Se tudo for feito corretamente, você poderá ver as informações do terreno em seus mapas, como encostas, rios e outros recursos. Também é possível medir os recursos florestais em detalhe, e até mesmo inferir quão altas estão as árvores.
A informação pode ser usada para gerar informações precisas sobre o terreno da Ilha do Príncipe, para mapear áreas de interesse especial (como mangues) em detalhe, monitorar e planejar trabalhos de regeneração florestal, patrulhar crimes ambientais, entre outra aplicações.
Veja também: MAPEAMENTO 3D DAS RUÍNAS DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES POR MEIO DE DRONES